Projeto Aurora Boreal: Fim da linha?

Projeto Aurora Boreal:  Fim da linha?

A Tania era uma polonesa amável que estava fazendo intercâmbio universitário na Suécia e, assim como nós, aproveitava suas férias para ir em busca da Aurora Boreal. Enquanto nosso destino final era Tromsø, o seu era Kiruna (última cidade sueca antes de Narvik). Agora éramos quatro pessoas apreensivas com a notícia de que não seguiríamos viagem.

Tania
Essa é a Tania, sempre fofa e sorridente! (clique na imagem para ampliar)

Chegamos a Luleå, fazia -31°C, um frio inexplicável. Fomos direcionados a um hotel e aguardávamos lá maiores explicações. O hotel ficava a apenas um quarteirão da estação de trem e garanto que fora uma das caminhadas mais árduas da minha vida: o frio cortava, machucava. Doía andar, respirar e mexer os dedos. Ainda estava vestida com as roupas “leves” do frio de -8°C de Estocolmo e até meus cílios estavam congelados! Na recepção, ninguém sabia explicar o que estava acontecendo, apenas que o frio estava muito intenso mais ao norte (“winter is coming”) e que todos os trens a partir dali não funcionariam até segunda ordem. E agora? Luleå não era rota para a Aurora e, segundo previsões, a atividade se encerraria no dia seguinte. O desespero assolou… Os meninos me pediam para acalmar, haveria uma saída, mas era frustrante saber que todo nosso esforço seria em vão.

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Era domingo, nada estava aberto e, mesmo se estivesse, não caminharíamos tão longe com aquele frio. Logo, almoçamos, jantamos – e almoçamos de novo – sanduíche. Munidos de nossas roupas polares, testamos pela primeira vez nosso aparato que mais parecia roupa de astronauta. Liguei para a SJ – companhia ferroviária – mas ninguém atendia por ser fim de semana.

Clothes
Começando a vestir a roupa de astronauta e me sentindo uma personagem de “A Laranja Mecânica”.

Acordamos na segunda bem cedo, pois havia rumores que partiria um trem às 6 da manhã… Grande ilusão! Todos os passageiros naufragados naquela cidade descobriram logo que era apenas boato. Tomamos café-da-manhã com a Tania, depois todos foram dormir, menos eu, que estava com os nervos à flor da pele. Era o último dia com atividade prevista, PRECISÁVAMOS SAIR DALI! Liguei insistentemente para a SJ que disse que não havia qualquer previsão de partida e não poderiam fazer mais nada por nós, pois éramos brasileiros e as leis não se aplicam a estrangeiros.

É verdade, éramos estrangeiros mesmo, se pelo menos estivéssemos no Brasil… É isso! Há um pedaço de Brasil na Suécia! E então, como um filho que corre para o colo da mãe, liguei chorosa para o Consulado Brasileiro, pedindo, implorando ajuda – todos os anos assistindo aos dramas de Maria do Bairro serviram para alguma coisa –, se havia um helicóptero para nos tirar de lá (nessa hora, já imaginava a CNN cobrindo nosso resgate)! Instantes depois, recebo uma ligação de volta e, claro, um helicóptero seria impossível… Mas conseguiram entrar em contato com a SJ que nos colocaria em um ônibus para Kiruna – havia pedido para eles que nos levassem pelo menos para lá, pois me lembrei dos pôsteres no trem e da Tania – e pagariam nosso hotel até que os trens voltassem a funcionar. Já havíamos perdido todas as nossas reservas de hotel e passeios em Tromsø, então conseguindo ver a Aurora Boreal, não teria mais motivo para seguir pra Noruega.

Partiríamos em uma hora e chegaríamos em Kiruna às 21:00. Tentamos reservar qualquer expedição para a caçada, afinal, teríamos uma única tentativa, mas todas ocorriam entre 16:00 e 18:00, quando havia escuridão total e sem a lua ter nascido. E agora? Descobri uma estação na montanha, Aurora Sky Station em Åbisko, menos de 20km da fronteira com a Noruega, própria para a observação da Aurora Boreal. Adivinha? Funcionava até o começo da madrugada! Ainda existia esperança! Alugamos um carro via internet e corremos para a estação rodoviária.

Corações ansiosos, o nervosismo pairava no ar. No ônibus para Kiruna, cada um sentou em seu canto para refletir, não trocávamos qualquer palavra. Mas eu trocava era suspiros, ora de preocupação, ora de paixão pelo deus nórdico sentado ao meu lado quem, vez ou outra, sorria pra mim. Como eu odeio a Escandinávia! Não consigo sequer sofrer mais em paz sem um Thor desviar o foco do meu drama!

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Um suspiro para a preocupação, dois para a paisagem maravilhosa e três para o Thor… (clique na imagem para ampliar)

Estávamos no meio do nada e nessas três semanas muito mudou: bocas e mãos machucadas, cabelo mal cuidado, pele descascando, visível ganho de peso. Mas a viagem não me transformou apenas por fora… Até ali, aprendi muito, convivi com diferenças, vivi a cultura do outro. Estava lá há mais de 10.000km de distância de casa e até onde havia chegado? Já era Polo Norte e quem mais já havia passado por ali? Percorremos tanto para nada? O jeito era esperar pra ver (ver também se o Thor falaria algo comigo até o fim da viagem)…

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Chegamos a uma gélida Kiruna, a -42°C. Tínhamos que caminhar da rodoviária ao hotel. Como? A cidade estava tomada pelo gelo e um frio assassino e eis que meu super-herói, o Avenger Thor, que na verdade se chamava Lars, com seu sorriso brilhante ofereceu carona até nosso destino – ok, quase disse para ele que, na verdade, nosso destino era ficarmos juntos para sempre, mas fui contida pelos garotos. Deixamos nossas malas no hotel, pegamos o carro alugado e buscamos às pressas nossa amiga polonesa em seu albergue. Deparamos com uma Tania desesperada com a câmera na mão. Pra variar, o que havia acontecido dessa vez? Ela entrou no nosso carro ofegante e nos mostra quase histérica o que ocorreu…

Até semana que vem!

Todos os artigos da série Aurora Boreal

  1. O Início da Jornada
  2. Primeiros dias num país distante
  3. O que aconteceu com eles?
  4. Suécia e Noruega
  5. Fim da linha?
  6. Prazer, eu sou a Aurora Boreal!

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Camila

Camila Oliveira

Camila gosta de viajar, conhecer lugares, pessoas e culturas, ouvir música, sentir aromas, degustar sabores, saborear a vida, aprender novos idiomas. Não quer criar raízes, pois sabe onde é o seu lugar: o mundo.

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