Cecília Meirelles: aos professores de inglês

Alessandro 3 13 98
Hoje qualquer pessoa pode aprender inglês com a maior facilidade: há institutos e cursos especializados, livros que dispensam professor, aulas pelo radio e pela televisão, métodos tão modernos que nem me atrevo a descrever, com medo de me sentir inatual. Mas houve um tempo em que não era bem assim: os professores de inglês eram difíceis de encontrar, os alunos também não pareciam muito numerosos, a literatura francesa dominava com uma encantadora prepotência, e parece que todo brasileiro educado devia saber, em matéria de idiomas, apenas português e francês.

Mas, por ter descoberto Keats e Shelley, nem sei bem como, eu andava a procura de quem me ensinasse inglês, fosse por que método fosse, contanto que eu pudesse chegar à poesia inglesa com a maior rapidez possível. Comecei a frequentar um instituto onde havia muitos cursos de arte e literatura. Parecia-me que aquele era o caminho. E dispunha-me a uma dedicação total aos meus exercícios. Mas a boa professora, embora sem ser inglesa, mas com cursos no estrangeiro, grande prática em aulas particulares e outras especificações, iniciou suas aulas com um pequeno discurso sobre a absoluta necessidade de se conjugar perfeitamente os verbos “to be” e “to have”, antes de se conhecer sequer uma palavra do vocabulário.

Ora, nem todos os estudantes haviam descoberto Keats ou Shelley, e frequentavam as aulas por simples obrigação. Ninguém estava pensando em versos ingleses: nem mesmo a professora. E foi um tal de recitar indicativos, condicionais e subjuntivos, presentes, futuros e passados, ora perfeitos, ora imperfeitos, ora mais que perfeitos, afirmativa, negativa e interrogativamente, que aqueles solos e coros me conduziam a uma irresistível sonolência.
Mas havia salas próximas em que se estudavam piano e violino. De modo que eu podia descansar na música sempre que os verbos chegavam àquele ponto de monotonia em que só me restava ou enlouquecer ou dormir.

A minha segunda professora de inglês era inglesa mesmo. Também acreditava na eficácia dos verbos “to be” e “to have”. Acrescentava-lhes ainda o “to get”, ao qual se referia com um sorriso tão carinhoso que até dava vontade de se começar por aí. Mas essa professora tinha um método encantador: oferecia-me uma xícara de chá, para acompanhar as aulas. Sua sala era absolutamente igual às que se vêem nos livros ilustrados para o ensino do inglês. Exceto a lareira, tudo estava lá. E como eu já sabia um pouco de verbos, passamos àquelas frases em que o chapéu ora é nosso, ora é da nossa prima e o gato ora está embaixo da mesa, ora em cima da cadeira. Mas era tão difícil chegar a Keats e Shelley!

A terceira professora gostava de histórias de fantasmas, de sinos que batem à meia-noite, e em cima da sua mesa havia uma bola de cristal, por onde ela adivinhava o futuro. Mas no meio das suas histórias levantavam-se às vezes o “to be” e o “to have” e ela me pedia para recitar todos os seus modos e tempos acompanhando os meus esforços com um sorriso que talvez não fosse completamente macabro, mas era bastante assustador.

Feitas essas primeiras experiências, pareceu-me melhor ir diretamente aos autores, e, de vez em quando, aperfeiçoar-me por meio de quantos livros de “inglês sem mestre” fossem aparecendo.

Encerrando o ciclo das professoras, começou o dos professores. Um era persa, e dava-me a traduzir sentenças filosóficas, sem se ocupar dos modos e tempos do “to be” nem do “to have”. O outro vinha da Austrália: contava histórias da feitiçaria (esse era para o inglês falado), mas no meio das histórias ficava com tanto medo do que estava contando que era preciso tranquilizá-lo e mudar de assunto.

Por isso, no dia em que visitei a casa de Keats, em Roma, não pude deixar de pensar com ironia e tristeza: como são longos, às vezes, os caminhos da vida! E quanto tempo se pode levar para se chegar a um Poeta!

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1 resposta
Henry Cunha 3 18 190
Até Keats gostava desse "to be":

There was a na*ghty boy,
A na*ghty boy was he,
He would not stop at home,
He could not quiet be-
He took
In his knapsack
A book
Full of vowels
And a shirt
With some towels,
A slight cap
For night cap,
A hair brush,
Comb ditto,
New stockings
For old ones
Would split O!
This knapsack
Tight at's back
He rivetted close
And followed his nose
To the north,
To the north,
And follow'd his nose
To the north.