Inglês nas escolas regulares - públicas e particulares

Donay Mendonça 23 127 1.7k
Pessoal,

Depois da inspiradora campanha do Alessandro: “Educação: divulgue essa ideia”, eu decidi abrir espaço para que as pessoas - alunos ou professores, falem sobre o ensino de idiomas nas escolas regulares, principalmente do inglês. Já existe uma seção aqui feita para as escolas especializadas em línguas; mas acredito que é fundamental sabermos mais sobre o que se passa no distante universo das escolas regulares e o ensino/aprendizado de inglês. Eu, particularmente, trabalhei pouco no ensino regular, apesar de ter uma noção das dificuldades que tanto alunos quanto professores enfrentam; muitos dizem: "na escola regular, o professor finge que ensina e o aluno finge que aprende." Bom, polêmicas à parte, gostaria de propor algumas perguntas a seguir:

1. Qual a sua opinião sobre o ensino de idiomas na escola regular que frequentou ou frequenta?

2. Por que costuma-se dizer que não se aprende inglês na escola regular? Mencione fatos.

3. Quais são suas sugestões para melhorar o ensino nas escolas regulares?

4. O que já existe de bom e você não gostaria que mudassem?


Bons estudos!

ENTENDENDO AS HORAS EM INGLÊS
Nesta aula, a professora Camila Oliveira ensina vários macetes para você nunca mais se confundir na hora de dizer as horas em inglês. ACESSAR AULA
11 respostas
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1) O ensino é fraco. Se aprende apenas uma fração do inglês e, ainda assim, somente na parte da escrita.

2) Dois motivos:
a) Se ensina apenas a parte da escrita, com vários textos e regras gramaticais, e só a norma mais culta. O coloquial não se aprente, assim como o vocabulário não aumenta tanto.
b) Em escolas regulares, a grande maioria dos alunos não quer aprender Inglês (enquanto quem faz curso obviamente é porque quer) e estes que não querem seguem um ritmo muito baixo, o professor é forçado a seguir o ritmo dos alunos mais lentos para evitar problemas

3) É difícil melhorar na escola 'normal', devido ao segundo problema que citei acima. Forçar a ideia de que "Inglês é importante para o futuro (P*RRA!!!)" não vai incentivá-los, apenas desmoralizá-los ainda mais, primeiro por verem que não conseguem aprender algo supostamente importante e, segundo, por ouvirem a mesma coisa de novo e de novo e de novo...

4) A grande maioria dos professores são bons, tentam ser interativos ao máximo e geralmente são mais modestos que os de cursos, corrigindo erros apontados pelos alunos caso realmente existam, enquanto muitas vezes em cursos específicos os professores tentam disfarçar e convencer os alunos de que eles (professores) estão corretos.
Quando eu estava na escola o inglês todo ano começava com o famoso "Verbo to be", daí vinha as traduções de um texto do livro e depois tinha que fazer os exercícios que normalmente eram "Faça como o exemplo" que não acrescentavam nada.
Eu tinha muita vontade de aprender, mas a maioria não estava nem aí, as turmas eram enormes, e os professores pareciam que não tinham vontade de ensinar. Com certeza tinham os motivos deles, salários baixos, indisciplina dos alunos e tals, mas os alunos não poderiam sair prejudicados. Eu sentia muito despreparo dos professores também. Eu lembro que uma vez eu perguntei para o professor o que era "De nada" em inglês, quando a pessoa agradece. E ele respondeu "I don't know". Eu fiquei um tempão achando que "I don't know" era "De nada". :lol:
Como nas escolas públicas têm muitos alunos, acredito que aulas com músicas seria uma boa, pois dá para todos cantarem ao mesmo tempo. Deveriam dar mais ênfase à conversação (eu não tive nada e hoje é minha maior dificuldade).
Hoje tem muito mais opções também, acredito que a maioria das escolas já tem computador (não sei como está a situação das escolas hj em dia) e não faltam vídeos na internet para serem utilizados.
Trabalho em grupo também acho interessante. Se reunirem para fazer uma aula de conversação.
Aqui no fórum tem ótimas idéias, várias indicações de sites interessantíssimos. E brincadeiras também, mesmo para os maiores as atividades mais descontraídas podem ser interessantes. Pelo menos na minha época eu sentia um pouco de falta de criatividade, ou talvez vontade, dos professores. Acredito que um professor motivado instiga o aluno a aprender.
Acredito que o principal problema seja a falta de interesse dos alunos, mesmo.
Mas isso ocorre com qualquer matéria no ensino médio ou fundamental. O fato é que o ensino obrigatório não é produtivo o suficiente porque não parte do aluno a vontade de aprender.
Quando pagamos por um curso de idioma, é porque de fato queremos aprender aquele idioma.
O mesmo não acontece quando somos matriculados em uma escola cujo uma das disciplinas é a lingua inglesa.
Acredito que os professores teriam mais problemas ainda se tentassem levar a sério o ensino do ingles nas escolas.
Vários alunos reprovariam exclusivamente em inglês (porque, se você notar bem, nenhuma das matérias é de fato levada a sério).
Fora que teríamos que mudar até o intuito do ensino obrigatório, que é de ensinar o básico de cada coisa aos alunos.
Ou alguém aqui pretendia sair formado em química cursando o ensino médio? O mesmo vale para o inglês.
O que poderia melhorar um pouco a situação, seria oferecer a opção de qual idioma o aluno quer aprender. Algumas escolas oferecem ingles ou espanhol, por exemplo. Acredito que a qualidade do ensino de cada uma delas iria melhorar um pouquinho. Não digo que melhoraria muito porque ainda existiriam alunos que optariam por uma das duas pelo simples fato de não gostar da outra. Por exemplo, conheço pessoas que não gostam de inglês e por esse motivo escolheriam ter aulas de espanhol, mas isso não quer dizer que essas pessoas tem, de fato, uma vontade genuina de aprender espanhol. O ideal seria que as escolas tivessem infra-estrutura o suficiente para oferecer para o aluno várias opções de idiomas. Aí sim, as chances da vontade ser genuína aumentariam bastante, e os professores poderiam se puxar mais no conteúdo (já que, com mais alunos motivados, não haveria tamanha necessidade de nivelar por baixo).
Mas para isso seria necessária uma revolução muito grande no nosso sistema de ensino.
Principalmente porque, se pensarmos por esse lado, chegaríamos a conclusão de que esse modelo de ensino (na qual o aluno escolhe aquilo que quer aprender) seria ideal não apenas para o aprendizado de línguas, mas sim para todas as disciplinas. E, infelizmente, ainda não temos infra-estrutura e maturidade educacional o suficiente para oferecer algo deste tamanho.

Saindo um pouco do âmbito utópico, e partindo da realidade...
Acho que algo que pode ser feito hoje e que já vi algumas escolas fazerem é separar as turmas na hora dos períodos referentes a ingles (assim como algumas escolas separam no período da educação física).
Na escola de um amigo meu funcionava da seguinte maneira:
Supondo que existem 4 turmas no terceiro ano, aplica-se no começo do ano um teste de nivelamento e separa-se as turmas de ingles de acordo com os conhecimentos individuais e os separa em níveis básicos, intermediários (podendo haver 2, nesse caso) e avançado. Sendo assim, no horário destinado para a aula de inglês, continuam existindo 4 turmas (o que não exige um corpo docente maior), porém cada uma recebe aulas de acordo com o resultado do nivelamento. Acho que dessa forma funciona muito bem, e na turma avançada os professores podem inclusive adotar o modelo de cursinhos, tendo treinamento intensivo de pronuncia e atividades mais diferenciadas.
Concordo também que sejam necessárias atividades mais recreativas, descontraídas e interativas. Acho que a música é uma das melhores maneiras de se fixar vocabulário ou aprender palavras novas, então seria muito bom se as escolas promovessem ela um pouco mais. Talvez realizar concursos de canto ou corais, ou coisas desse gênero. Ia ser divertido e produtivo ao mesmo tempo :D

PS: Sorry pelo wall of text, me emocionei demais aqui =/
Donay Mendonça 23 127 1.7k
Monteiro,

Obrigado pelo depoimento e participação aqui no English Experts.


Bem-Vindo Ao Fórum!
Bem-vinda ;D
Meu nome é Fernanda, obrigada pelas boas-vindas!
Gostei muito do fórum, estudo inglês e achei bastante material de apoio aqui :)
INGLÊS PARA VIAGENS
A professora Marcela Miranda, mais conhecida como a Tia do Inglês, ensina nesta aula introdutória o vocabulário básico de inglês para viagens. Está se preparando para sua próxima viagem? A sua jornada começa aqui! ACESSAR AULA
Gabi 1 1 19
O problema com o nosso sistema de educação é monstro :(

Sobre as suas perguntas Donay (que achei muito interessantes, por sinal) -

1- Eu estudei a minha vida inteira em escola pública. Fiz o colegial na ETE (que tem um nível um pouco melhor que a maioria das escolas públicas) e mesmo lá o problema era quase o mesmo da minha escola de primeiro grau - os professores passam muita matéria gramatical e quase nada do resto.
Além de tudo isso, as aulas não são dinâmicas e os professores não sabiam me fazer entender a importância de se estudar inglês e em que contexto da minha vida seria útil.
Ou seja, é necessário que o aluno saiba o porquê de estar estudando, senão ele não se interessa e não aprende tanto assim.
Outro problema é que poucos professores sabem falar inglês.Então fica aí explicado a necessidade de uma formação de qualidade do professor.

2- não se aprende inglês na escola porquen falta dinâmica nas aulas e principalmente o professor
mostrar os verdadeiros benefícios para quem fala inglês de forma prática.
Aprende-se pouco e usa-se menos ainda. Não há quem aprenda assim.

3-Minha sugestão é que os professores saibam falar inglês de verdade ao invés de simplesmente terem sido dedicados alunos do curso de letras. E que eles treinassem os alunos para poderem de fato se virarem com o inglês , caso um dia fossem para outro país ou nem que seja no Brasil, conseguissem se comunicar com um estrangeiro.
E que nas escolas houvessem alguns livros em inglês, disponíveis para que os alunos pudessem pegá-los emprestados.

4- Não sei o que existe de bom. Alguém me conta, por favor.
Questão interessante e que deve ser problematizada de forma responsável.

Estudei a vida toda em escola pública, tendo, a partir da 6ª série, dois períodos semanais de Língua Inglesa até o final do Ensino Médio. As aulas eram como alguns que aqui postaram já relataram: leitura de textos com tradução e posteriores explicações sobre tópicos gramaticais destacados do texto, seguidos de exercícios de fixação. Não aprendi a falar, com toda a certeza. Na verdade, tenho que concordar, aprende-se bem pouco. Mas...

...hoje sou professora de Língua Inglesa, e a experiência ampliou minha visão acerca do ensino de inglês na escola regular. Este ano, por exemplo, eu tive um aluno particular, estudante de doutorado, que me contratou para ensiná-lo a ler os artigos de sua área - Agronomia. Ele não sabia absolutamente nada de inglês. Nem verbo to be, nem os subject pronouns, nada. Isso porque ele não escuta música internacional - apenas a música regionalista gaúcha - e porque... não teve inglês na escola. Seu ensino médio foi em uma escola técnica agrícola, em que inglês não fazia parte do currículo. Gente, ele não conhecia palavras como "always", "like" e "never". Nesse momento, revi meus conceitos sobre o inglês do colégio. Entrei na faculdade de Letras só com o inglês do colégio (nunca tinha feito curso por fora), e conhecia o verb to be, os advérbios de frequência, sabia que vai um "s" na terceira pessoa do singular no Simple Present afirmativo, e que no Simple Past vai um -ed no final do verbo, mas que tem verbos que são irregulares aos quais não se acrescentam -ed, etc. E isso, senhores, aprendi no colégio.

É claro que reconheço que isso é pouco. Mas devemos levar em conta o contexto em que esse pouco é ensinado e aprendido. É inviável ensinar habilidades de produção para turmas de 35 ou 40 alunos, muito menos tendo dois períodos semanais apenas. Além do mais, existe o desinteresse do aluno. Quando um bebê está no seio de sua família, ela deseja aprender a língua daquelas pessoas porque precisa se apropriar dos códigos delas para fazer parte daquele grupo. Na sala de aula, os alunos partilham dos mesmos códigos entre si, não precisando partilhar do código do professor. Convenhamos, não faz o menor sentido em 35 pessoas se esforçarem para falar uma língua estrangeira quando todos falam a mesma língua materna. Só aprendemos na necessidade (ou no desejo, que, no caso em questão, é elemento faltante). Ou seja, o professor não tem outra saída a não ser ensinar algum vabulário e tópicos gramaticais.

Solução existe. No colégio em que trabalho - Colégio de Aplicação da UFRGS - os alunos da 7ª série escolhem uma dentre 4 línguas para estudar (alemão, espanhol, francês e inglês), o que dilui os alunos de duas turmas em quatro grupos, que acabam sendo reduzidos - cerca de 15 alunos por turma. Pasmem, são cinco períodos de língua estrangeira por semana (uma conquista feita à base de muita briga com os professores de outras áreas). Nessas condições, dou aula como quem dá aula em curso de idiomas. Trabalho muito listening e speaking, e os alunos realmente aprendem - guardadas as proporções das dificuldades individuais.

Só gostaria de reforçar alguns comentários acima postados:

1) Não se aprende Inglês no colégio como também não se aprende Química ou História. O problema não é isolado do Inglês, mas de todas as disciplinas. Agora com a inclusão de Filosofia e Sociologia no currículo do Ensino Médio, então, são dezenas de disciplinas com pouca horária em que não se aprende um quase nada de tudo.

2) A questão de poder optar: de fato, aqui na escola, achávamos que os alunos, podendo escolher uma dentre 4 línguas, escolheriam a que mais gostassem e não reclamariam de ter de estudar algo de que não gostam. Ledo engano. Há vários fatores que intereferm na escolha. Poucos escolhem a língua porque querem estudá-la mesmo. A maioria opta de acordo com critérios como: 1) meus amigos escolheram essa língua, e eu quero ser colega deles; 2) eu já estudei essa língua por fora, então será fácil para mim e eu terei uma disciplina a menos com que me preocupar; 3) eu detesto as outras línguas; 4) essa língua parece mais fácil; 5) a professora dessa língua parece ser mais simpática do que as de outras línguas, etc. É muito frustrante.

E um último comentário: nas escolas em que o Inglês continua com dois períodos semanais para turmas enormes, acredito que a melhor solução é tirar proveito das novas tecnologias e colocá-los oara falar via MSN ou Skype com nativos. Na sala de aula tradicional, a língua nunca será vista pelos alunos como uma língua de fato, mas como mais uma matéria.

Abraço!
Flavia.lm 1 10 100
Ana,
Achei seu texto fantástico mas, no final, qdo vc diz "a melhor solução é tirar proveito das novas tecnologias e coloca-los (os alunos) para falar com nativos", dá a impressão que essa é a única ação a ser feita. Se há possibilidade de utilizar tecnologia, ótimo, mas eu creio que professores motivados são capazes de ensinar inglês (e história, química), sem qualquer apoio de tecnologia, desde que tenham motivação (e aí caímos no ponto salário + condições da escola + apoio pedagógico + etc, etc, etc.)
Donay Mendonça 23 127 1.7k
Sugestão relacionada de leitura:

Boa leitura!
Olá! Vim aqui no site catar um post antigo meu e, ao pesquisar "meus tópicos", vim parar aqui. Realmente, meu último parágrafo está equivocado, quer dizer, se foi isso que eu dei a entender - que o uso de novas tecnologias são a única solução -, me expressei muito mal.

Mas tenho algo a acrescentar, uma experiência que eu tive nesta semana. Não trabalho mais naquela escola em que eu trabalhava em 2010. Agora dou aula em uma escola privada bastante elitizada. Os alunos viajam ao exterior com frequência e fazem curso de inglês. Pois bem, dentro desta realidade, é claro que meus dois míseros períodos são piada para eles. Well, no intuito de oferecer algo relevante a eles, eu escolhi trabalhar contos (em inglês adaptado!) de Edgar Allan Poe com eles, já que adolescentes de 14 anos AMAM histórias de suspense, horror etc. Primeiro trabalhei o The Cask of Amontillado. Depois, fiz um trabalho avaliativo com The fall of the house of Usher, com as devidas atividades de pre-reading preparando para o vocabulário, e as posteriores questões de compreensão e interpretação. Adivinhem? Reclamaram! "Ai, isso tá muito difícil". Ué? Não são os "sabem-tudo"? Inglês de colégio não é fraco? Já não aprenderam tudo em jogos online e nas séries do Warner Chanell? Aí é que me refiro minha gente: falam mal do inglês do colégio como se soubessem muita coisa! Assim como um idioma não é só regras gramaticais, também não é só gírias e idioms. Entendem The big bang theory, mas quando se deparam com um texto adaptado de Poe, tremem na base (vamos combinar, pessoal, The fall of the house of Usher nem é um conto difícil. porque poderia ser este o aspecto, né? não a língua, mas a literariedade do texto, mas não foi o caso).

E o pior, gente, é que mesmo tendo trabalhado Poe (e indefinite pronouns, relative clauses, present perfect...), se perguntarem a esses mesmos alunos daqui alguns anos o que eles aprenderam de inglês na escola, vão responder o mesmo clichê "Verb to be". Me digam: o problema está nos professores ou nos alunos?
INGLÊS PARA VIAGENS
A professora Marcela Miranda, mais conhecida como a Tia do Inglês, ensina nesta aula introdutória o vocabulário básico de inglês para viagens. Está se preparando para sua próxima viagem? A sua jornada começa aqui! ACESSAR AULA
O problema se encontra em ambos. O professor porque não está adaptado ao nível do aluno e este por não dar importância ao ensino de inglês na escola, não se interessa.