I’d like a Big Mac and a large cock.
Imagina você falando isso em inglês para o caixa do McDonald’s em Nova Iorque em tom de voz bem alto.
Você vai receber um olhar surpreso, ou possivelmente alguma risada do outro lado do balcão. Isso porque você não pediu uma Coca-cola. Cock é uma palavra vulgar para se referir ao órgão sexual masculino.
Seu único erro foi pronunciar cock (cók) ao invés de Coke (côuk), que era o que você realmente queria.
O brasileiro é um povo que tem vergonha de errar.
Tudo bem, vamos admitir que essa situação é bem constrangedora. Mas basta estar vivo para errar, ninguém está livre disso, principalmente quem está aprendendo uma nova língua.
A Vantagem do Erro “Traumatizante”
É claro que fazer um pedido incorretamente pode te colocar em uma situação bem constrangedora. Mas isso não deveria traumatizar ou bloquear ninguém para falar o idioma. Todo mundo está sujeito a errar assim.
A estratégia emocional aqui é enxergar essa situação potencialmente constrangedora como uma experiência divertida que vai te ajudar a nunca mais repetir aquele erro. Sim, é uma experiência de aprendizagem, e não somente um mico.
Porque ela estará gravada na sua memória para o resto da sua vida. Este é o mindset das pessoas que conseguem chegar à fluência em inglês.
Caso uma situação constrangedora dessas aconteça com você, há duas possibilidades para continuar a vida:
- Rir de si mesmo, e segue o jogo;
- Viver retraído e traumatizado, com medo de cometer outros erros.
Eu já ouvi muitos relatos de erros (ou micos) como esse, que realmente podem constranger muita gente.
Aqueles erros de menor importância
Vamos falar agora de uma outra categoria de erros: aqueles de menor importância, mas que são igualmente responsáveis pelo bloqueio de muita gente para falar inglês. Estes erros deveriam ser menos responsáveis ainda por bloquear ou traumatizar qualquer pessoa.
Estou falando de erros como não colocar o “s” na terceira pessoa do singular, e ao invés de falar “she likes“, falar “she like“.
Este erro não compromete o entendimento da sua mensagem.
Estou falando de erros como trocar um tempo verbal. Você fala algo no passado achando que está se referindo ao futuro.
Este erro pode comprometer o entendimento de sua mensagem.
Porém, estou falando de erros que não nos colocariam em uma situação tão constrangedora.
Por quê o brasileiro em geral tem tanto medo de errar?
E por quê este medo bloqueia tanto a fluência em inglês?
As Duas Grandes Causas do Medo de Errar
O erro é um dos grandes responsáveis pela falta de confiança do nosso povo para falar inglês.
Vamos à raiz do problema? São dois os principais motivos para esse fenômeno:
- O sentimento de culpa ou dificuldade por ter estudado em tantas escolas de inglês e ainda não conseguir desenrolar a conversação como acha que deveria (ou mereceria).
- O julgamento alheio das pessoas que estão ao redor. E pasme, esse julgamento não vem dos gringos com quem conversamos, e sim dos próprios colegas (ou desconhecidos) brasileiros que estão ouvindo nossa conversa.
O Copo Meio Cheio e o Copo Meio Vazio
Eu analisei milhares de alunos ao longo de 30 anos ensinando inglês, e constatei que existe uma discrepância enorme na percepção do próprio progresso do aluno na busca pela fluência em inglês.
E o que causa essa falha de percepção é a ansiedade.
Quando a ansiedade tomou conta do aluno, ele não percebe seu progresso, pois está focado demais em seus erros, e no longo caminho que falta. Na maioria das vezes, ficar fluente em inglês é mais um desejo que uma meta.
Isso pode ser bem explicado com a analogia do copo meio cheio e copo meio vazio, que ilustra a percepção de uma mesma situação a partir de dois pontos de vistas distintos: a do otimista e a do pessimista.
O pessimista, ao enxergar o copo com água pela metade conclui que ele está “meio vazio”, pois está focando no que ainda falta, e assim não percebe o quando está progredindo. E isso pode fazê-lo estacionar.
O otimista, ao enxergar o mesmo copo “meio cheio”, está focando no caminho que já percorreu. E o mais importante: está celebrando essas conquistas, por menores que possam parecer. E assim acelera seu progresso.
O Mindset Adequado
Precisamos entender que sermos compreendidos é mais importante do que falar perfeitamente.
Perceba que o estrangeiro que está no Brasil comete erros de português de forma bem natural e não fica constrangido com esses erros. E muitas vezes conseguimos entendê-los mesmo que digam coisas como: “Eu gostar muito de isso”.
Este é o mindset mais presente entre eles, o de aceitar os próprios erros por entender que fazem parte do processo de aprendizagem.
Na área de empreendedorismo, conseguimos ver uma grande diferença de percepção com relação ao erro entre Brasil e países mais desenvolvidos, como os EUA ou Canadá.
Erro no Brasil = fracasso, vergonha
Erro nos EUA ou Canadá = aprendizado
No Brasil, se algum empresário vai à falência, ele é fracassado.
Nos EUA ou Canadá, se algum empresário vai à falência, ele está mais preparado para abrir a próxima empresa.
O Processo de Aprendizagem
Este processo é composto por erros e acertos. Isso mesmo! Os erros desempenham um papel fundamental na aprendizagem.
Eu costumo dizer que existe uma equação matemática simples no aprendizado de um idioma estrangeiro:
+ ERROS = + ACERTOS
Ou seja: quanto mais você errar, mais vai acertar. Simples assim.
Muito erros significam que você está tentando, está se expondo. E eles diminuem no processo.
Tentativa e Erro na Comédia
Há três anos eu treino comediantes já consagrados para fazer comédia em inglês, e essa experiência me deu insights muito interessantes sobre o erro. Eles se sentem muito nervosos para subir ao palco em um idioma que não é sua língua de domínio, diferente das apresentações em português que já dominam há anos e encantam o público com elas.
Imagine o desafio: falar em público já é o maior medo da humanidade, e agora eles têm que fazer isso em inglês! É como se eles saíssem de suas zonas de conforto e voltassem para o início da carreira.
Mas eles têm algo no DNA que os dá um entendimento claro sobre a natureza do erro.
Eles estão acostumados a tentar e errar, pois fazer piadas para o público é isso! Você vai errar muitas vezes até acertar. Eles entendem que errar é parte indispensável do processo.
O humorista e empreendedor Murilo Gun criou um quadro no Youtube chamado Tentativa e Erro onde debate ideias para piadas com outros comediantes antes do show de Standup Comedy. Logo após o show, no camarim, ele volta e faz comentários sobre o que funcionou, o que não funcionou e o porquê em sua visão.
Um processo puro de tentativa e erro. E um caminho certo para o sucesso.
Fazendo as pazes com o erro
Nosso objetivo desse ser o de ajustar a nossa mentalidade e nossa atitude para errar com naturalidade e sem medo. Dessa forma, conseguimos acelerar nosso aprendizado e falar inglês com mais naturalidade.
Acho que vale a pena repetir a fórmula para refrescar a memória:
+ ERROS = + ACERTOS
Os erros então se tornarão mais engraçados e mais divertidos, e nos darão a percepção de progresso.
As pessoas mais brilhantes e bem resolvidas que conheço riem de si mesmas. Fazem piadas sobre suas desgraças e assim tudo fica mais legal e divertido.
Divirta-se no processo. Dê risada de si mesmo. Descontraia mais.
Lembre-se de como as crianças não se preocupam em errar. Caiu, levanta e segue adiante.
Não veja o erro como inimigo do outro lado, traga-o para seu lado.
Faça as pazes com o erro.
Sobre o Autor: Daniel Bonatti é professor, tradutor e intérprete ( criador da imersão LivEnglish e organizador do Stand-up in English, evento que reúne os melhores comediantes do Brasil para encarar o desafio de fazer um show em inglês ).
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