Intercâmbio depois dos 30

Intercâmbio depois dos 30

Se você tem mais de 30 anos, carreira consolidada, vida confortável, relacionamento estável e ainda assim está infeliz e sem saber o que fazer, senta aqui que vou te contar minha história de intercâmbio.

Breakdown

Para começar, eu nunca quis fazer intercâmbio. Nunca pensei em morar fora do país, viajar o mundo, essas coisas todas que os “jovens aventureiros” de hoje em dia almejam na vida. Minhas ambições eram modestas. Eu gostava de fazer viagens curtas… E meu sonho de vida era ter um emprego bacana, consolidar minha carreira, morar num lugarzinho confortável, que eu certamente iria pagar em 30 anos, me apaixonar, casar e ter uma família. Assim como aconteceu com minha irmã, minha mãe e todas as minhas amigas próximas. Não tinha erro, era o pacote de felicidade perfeito e, se deu certo pra elas, daria certo para mim também, era só fazer a minha parte.

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E eu fiz. Eu me formei, fiz pós-graduação, consolidei minha carreira e, aos 25 anos, quando a metade das minhas amigas estavam se casando, eu resolvi sair da casa dos meus pais e terminar meu noivado. Esse foi o meu primeiro breakdown.

Como sair da zona de conforto

Medo da Mudança

Preciso dizer uma coisa: eu sou medrosa, muito medrosa. Eu detestava mudanças e, se tivesse que quebrar minha rotina por algum motivo, eu tinha um mini surto interno. Eu adorava morar com meus pais, nunca tive nenhum problema com minha família. Tinha liberdade, privacidade e, de quebra, ainda conseguia economizar uma boa grana porque minha ajuda financeira era muito pouca na casa. Saí de casa mesmo por causa do meu vizinho, sim, meu vizinho. Ele estacionava o carro em frente à minha garagem toda noite e na manhã seguinte, eu já estava estressada antes mesmo de chegar ao trabalho.

Tá, tinha isso, mas também tinha a galera lá em casa que estava naquela torcida feroz para eu me casar logo. Depois de quase 4 anos de relacionamento, é isso que se espera. Meu ex-noivo era ótimo, uma das pessoas mais sensacionais com que tive o prazer de dividir a vida e ele fazia de tudo para me fazer feliz. O ponto era que, por motivos inexplicáveis, estávamos andando em caminhos separados. Não estávamos preparados financeiramente para nos casarmos e morar junto não era uma possibilidade para duas pessoas criadas por japoneses.

No fundo, eu sabia que não era justo com ele. Afinal de contas, era eu que não estava mais feliz com a vida que levava. Era eu que sentia que alguma coisa estava faltando… Tinha uma mulher louca dentro de mim, gritando: “cai fora, tá tudo errado”. E, depois de muito pensar, ponderar e checar as economias, eu aluguei um mini apartamento e caí fora levando apenas roupas e livros. Vida nova, finalmente a mulher louca que há dentro de mim ia ficar tranquila. Naquela primeira noite sozinha deitada na cama da minha casa, onde eu tinha somente cama e geladeira, eu comecei a minha busca.

Como eu disse, eu sou medrosa e gosto da minha rotina. Porém, estou longe de ser uma pessoa conformista e que aceita uma vida como ela é. Detesto tanto esse medo que há em mim que, por vezes, as pessoas me vêem como uma garota corajosa, mas eu sou daquelas que vai com medo mesmo.

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Intercâmbio no exterior depois dos 30 anos

Intercâmbio no exterior depois dos 30 anos

Intercâmbio: A busca

O que aconteceu depois que me mudei foi que a sensação de vazio dentro de mim foi começando a ficar cada vez mais forte, o que me levou a fazer escolhas um pouco desesperadas na tentativa de preencher o buraco que eu sentia. Então, em 3 anos eu mudei de emprego, comecei um novo relacionamento, uma pós -graduação, me matriculei num curso de japonês, comprei um monte de besteiras que não precisava, viajei um pouco e quando comecei a buscar minha espiritualidade novamente, pouco a pouco as pessoas certas entraram no meu caminho.

É engraçado como quando você presta atenção de verdade, os sinais aparecem e a vida te guia para achar o caminho que você tem que seguir. Eu comecei a conhecer pessoas que tinham feito intercâmbio e falavam encantados, de como era a vida fora do país.

Um dia, durante o almoço, um colega de trabalho sentou-se à mesma mesa que eu no refeitório. Eu não o conhecia muito, mas aí, nessa de conversas curtas, ele acabou me contando que tinha acabado de voltar da Irlanda e havia ficado um mês em Dublin estudando inglês. Plantou a sementinha na minha cabeça.

Em paralelo, eu comecei a precisar cada vez mais do inglês no trabalho. Aí, como quase todo mundo, tive a grande ideia de fazer intercâmbio de um mês para melhorar o inglês e conseguir oportunidades melhores de trabalho.

Só que, para isso, eu ia ter que meter a mão nas minhas economias para seguir com o plano do pacote de felicidade. Eu estava economizando para o sonho da casa própria financiado em 30 anos. Achei que poderia ser pró-ativa e já ir guardando um pouco até encontrar o sortudo que aceitaria dividir essa dívida esse sonho, comigo.

O sábio Japonês

Como toda grande decisão da minha vida, juntei meu plano perfeito e fui falar com o japonês, sr. meu pai. Eu poderia escrever um livro sobre o que é ser criada por uma maranhense faladeira e danada, que viajou o Brasil inteiro, e um japonês tradicional que atravessou o oceano para morar no Brasil.

Meu pai chegou ao Brasil já adulto, então não absorveu muito da cultura. É o típico japonês mudo que só observa e, quando alguém pergunta alguma coisa, ele diz: fala com sua mãe. O japa não fala muito, mas ele me ensina com atitudes. Não é a toa que eu estava lá na sala da casa dos meus pais, aos 29 anos, sem depender financeiramente deles desde os 20, perguntando o que eles achavam de eu ir passar as minhas férias na Irlanda.

Acabei me abrindo com meu pai e disse que não estava muito feliz com a minha vida e que precisava de mais. Que eu ia para Dublin por um mês e ver como era e, se eu gostasse, eu poderia ficar mais. Meu pai ouviu toda minha ladainha sobre dinheiro curto, medo do desconhecido, medo de pegar o avião sozinha etc. Suas únicas palavras foram: “A única coisa que você precisa pra fazer qualquer coisa na vida é coragem. Se você não tem dinheiro, seu trabalho tá aí pra isso, pare de gastar com besteiras de roupa e sapato. Se quiser ir, pegue suas coisas, peça a conta do trabalho e mude-se de vez. A vida não precisa de ensaio“.
Intercâmbio: Medo e coragem na mudanca

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A jornada

Seis meses depois, meu pai estava me deixando no aeroporto às 05h da manhã para minha primeira viagem internacional. Eu, obviamente, estava com medo até de dizer “yes” pra água que a aeromoça me servia. O plano era ficar um ano. Trouxe dinheiro suficiente para ficar 6 meses sem trabalhar, todas as minhas economias para o sonho da casa própria financiada em 30 anos foram convertidas em euros para pagar pelo meu intercâmbio.

Meus amigos me chamaram de “Louca, comoooo você vai largar sua carreira para ir pra um país que você não conhece ninguém? Como você vai deixar o conforto de seu apartamento para dividir um quarto com 50 mil pessoas? Você não tem nem emprego lá!”.

Vou dizer uma coisa para você que tá aí morrendo de medo de correr atrás dos seus sonhos: não é fácil. A vida do outro lado do oceano é dura e é só você dar um Google aí pra encontrar um monte de depoimento de gente bacana que iria reclamar da vida até se vivesse no paraíso. E tem gente também que precisa perder tudo, para enfim encontrar.

Lições aprendidas

Se eu não tivesse levantando a bunda da cadeira daquele escritório, eu nunca teria visto o céu estrelado do deserto do Saara, eu nunca teria visitado uma vila no interior da Irlanda onde todo mundo se conhece. Nunca teria aprendido a tocar bateria com um irlandês que morou dois anos no Nepal. Não teria resgatado uma americana de um louco num bar e acabado a noite dançando até cair com ela no meio de uma hen party com tiozões gordos e engraçados. Eu também não teria vendido um anel de noivado para um irlandesinho de 6 anos pedir a professora em casamento. Eu não estaria com um anel de noivado no meu dedo agora, anel este que esta há mais de 50 anos numa família inglesa, só porque eu queria ter a experiência de dormir com um cara só por uma noite… Mas esses são tópicos para uma outra conversa.

“Eu é que não me sento no trono de um apartamento com a boca escancarada cheia de dentes, esperando a morte chegar”. Coragem, coragem.

Confira a continuação dessa história: Lições de um Subemprego.

Sobre a autora: Sanae Yamashita nasceu e cresceu no meio da Floresta amazônica. Apaixonada por pessoas e histórias, saiu de Manaus pra comemorar os 30 na Irlanda e nunca mais voltou. Hoje trabalha como Customer Advisor em Dublin e entre uma história e outra, faz origamis e compartilha a vida com um inglês engraçadinho que tenta aprender o português.

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